quinta-feira, 21 de março de 2013

O Quinhentismo no Brasil e em Portugal

Quinhentismo

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José de Anchieta foi o maior representante da literatura de informação no Brasil.
O Quinhentismo corresponde ao período literário que abrange todas as manifestações literárias produzidas no Brasil à época de seu descobrimento, durante o século XVI. É um movimento paralelo ao Classicismo português e possui ideias relacionadas ao Renascimento, que vivia o seu auge na Europa. A literatura do Quinhentismo tem como tema central os próprios objetivos da expansão marítima: a conquista material, na forma da literatura informativa das Grandes Navegações, e a conquista espiritual, resultante da política portuguesa da Contrarreforma e representada pela literatura jesuítica da Companhia de Jesus.[1]

Literatura informativa

A literatura informativa, também chamada de literatura dos viajantes ou dos cronistas, consiste em relatórios, documentos e cartas que empenham-se em levantar a fauna, flora e habitantes da nova terra, com o objetivo principal de encontrar riquezas, daí o fato de ser uma literatura meramente descritiva e de pouco valor literário. A exaltação da terra exótica e exuberante seria sua principal característica, marcada pelos adjetivos, quase sempre empregados no superlativo. Esse ufanismo e exaltação do Brasil seria a principal semente do sentimento nativista, que ganharia força no século XVII, durante as primeiras manifestações contra a Metrópole[1]
Com o crescente interesse dos europeus pelas terras recém-descobertas, expedições formadas por comerciantes e militares eram organizadas no intuito de descrever e noticiar a respeito das novas terras. Entre estes, estaria Pero Vaz de Caminha, escrivão que acompanhou a armada de Pedro Álvares Cabral, em 1500. Sua Carta a El-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil é um dos exemplos mais importantes da literatura Informativa, de inestimável valor histórico.[1]
É possível notar claramente o duplo objetivo do texto contido na Carta de Caminha, isto é, a conquista dos bens materias e a propagação da fé cristã, como demonstram os seguintes trechos:[1]
Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares [...] Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.

Literatura Catequética ou Literatura Jesuítica

Foi conseqüência da Contra-Reforma. A principal preocupação dos jesuítas era o trabalho de catequese, objetivo que determinou toda a sua produção literária, tanto na poesia como no teatro. Além da poesia de devoção, os jesuítas cultivaram o teatro de caráter pedagógico, baseado também em trechos bíblicos, e as cartas que informavam aos superiores na Europa o andamento dos trabalhos na Colônia. José de Anchieta se propôs ao estudo da língua tupi-guarani e é considerado o precursor do teatro no Brasil. Sua obra já apresenta traços barrocos.

Literatura classicista

Em Portugal, o Quinhentismo (Classicismo) teve início em 1527 , quando do retorno do poeta Sá de Miranda da Itália, onde viveu vários anos para estudos. Na bagagem, trazia novas técnicas versificatórias, o "dolce stil nuovo" ("doce estilo novo"). Além de introduzir no país o verso decassílabo (medida nova) em oposição à redondilha medieval (5 ou 7 sílabas), que passou a ser chamada de medida velha, trouxe uma nova conceituação artística. Devemos entender, portanto, que Sá de Miranda não trouxe para Portugal apenas um verso de medida diferente, mas um gosto poético mais refinado.
Juntamente com o decassílabo, passaram a ser cultivadas novas formas fixas de poesia, como o soneto (dois quartetos e tercetos, com metrificação em decassílabos e rimas em esquemas rigorosos), a ode (poesia de exaltação), a écloga (que tematiza o amor pastoril), a elegia (revelação de sentimentos tristes) , a epístola (carta em versos). É preciso lembrar que a substituição do verso redondilha (medida velha), característico da Idade Média, pelo decassílabo (medida nova) não se deu de forma imediata, pois ambas as medidas conviveram em grande parte do século XVI.
pelo decassílabo (medida nova) não se deu de forma imediata, pois ambas as medidas conviveram por grande parte do século XVI.
 
 
 
 
 
  1. a b c d De Nicola, José. Literatura brasileira: Das origens ao nossos dias. 15ª ed. São Paulo: Scipione, 1998. 503 p.
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Estilos de época na literatura brasileira


Autores quinhentistas


José de Anchieta

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Beato José de Anchieta
Presbítero e Apóstolo do Brasil
Nascimento 19 de Março de 1534 em Espanha
San Cristóbal de La Laguna, Canárias
Morte 9 de junho de 1597 (63 anos) em Brasil Espírito Santo Iriritiba
Veneração por Igreja Católica
Beatificação 22 de junho de 1980, Vaticano por João Paulo II
Festa litúrgica 9 de junho
Gloriole.svg Portal dos Santos
José de Anchieta SJ (San Cristóbal de La Laguna, 19 de março de 1534Iriritiba, 9 de junho de 1597) foi um padre jesuíta espanhol, um dos fundadores de São Paulo e declarado beato pelo papa João Paulo II. É cognominado de Apóstolo do Brasil.[1]
É homenageado dando seu nome à Rodovia Anchieta construída pelo então governador Adhemar Pereira de Barros por onde passava o Caminho do Padre José de Anchieta.

Biografia

Infância

Nascido na ilha de Tenerife, no arquipélago das Canárias, em 19 de março de 1534, era filho de Juán López de Anchieta, um revolucionário basco que tomou parte na revolta dos Comuneros contra o Imperador Carlos V na Espanha e um grande devoto da Virgem Maria.[1] Juán era aparentado dos Loyola, daí o parentesco de Anchieta com o fundador da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola.
Sua mãe chamava-se Mência Dias de Clavijo y Llarena,[2] natural das Ilhas Canárias, filha de judeus cristãos-novos. O avô materno, Sebastião de Llarena, era um judeu convertido do Reino de Castela.
Dos doze irmãos, além dele abraçaram o sacerdócio Pedro Núñez e Melchior.

Juventude

Anchieta viveu com a família até aos quatorze anos de idade, quando se mudou para Coimbra, em Portugal, onde foi estudar Filosofia no Real Colégio das Artes e Humanidades, anexo à Universidade de Coimbra. A ascendência judaica foi determinante para que o enviassem para estudar em Portugal, uma vez que na Espanha, à época, a Inquisição era mais rigorosa. Ingressou na Companhia de Jesus em 1551 como irmão.[1]

Atuação no Brasil


Evangelho nas Selvas (Padre Anchieta), por Benedito Calixto (1893). Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Tendo o padre Manuel da Nóbrega, Provincial dos Jesuítas no Brasil, solicitado mais braços para a atividade de evangelização do Brasil (mesmo os fracos de engenho e os doentes do corpo), o Provincial da Ordem, Simão Rodrigues, indicou, entre outros, José de Anchieta.
Anchieta, que padecia de "espinhela caída", chegou ao Brasil em 13 de junho de 1553, com menos de 20 anos de idade, com outros padres como o basco João de Azpilcueta Navarro.[1] Noviço, veio na armada de Duarte Góis e só mais tarde conheceria Manuel da Nóbrega, de quem se tornaria particular amigo. Nóbrega lhe deu a incumbência de continuar a construção do Colégio e foi a partir deste que Anchieta abriu os caminhos do sertão, aprendendo a língua tupi e compondo a primeira gramática desta que, na América Portuguesa, seria chamada de "língua geral".
No seguimento da sua ação missionária, participou da fundação, no planalto de Piratininga, do Colégio de São Paulo, do qual foi regente, embrião da cidade de São Paulo, junto com outros padres da Companhia, em 25 de janeiro de 1554. Esta povoação contava, no primeiro ano da sua existência com 130 pessoas, das quais 36 haviam recebido o batismo.
Sabe-se que a data da fundação de São Paulo é o dia 25 de janeiro por causa de uma carta de Anchieta aos seus superiores da Companhia de Jesus, na qual diz:
Cquote1.svg A 25 de Janeiro do Ano do Senhor de 1554 celebramos, em paupérrima e estreitíssima casinha, a primeira missa, no dia da conversão do Apóstolo São Paulo, e, por isso, a ele dedicamos nossa casa! Cquote2.svg
O religioso cuidava não apenas de educar e catequizar os indígenas, como também de defendê-los dos abusos dos colonizadores portugueses que queriam não raro escravizá-los e tomar-lhes as mulheres e filhos.
Esteve em Itanhaém e Peruíbe, no litoral sul de São Paulo, na quaresma que antecedeu a sua ida à aldeia de Iperoig, juntamente com o padre Manuel da Nóbrega, em missão de preparo para o Armistício com os Tupinambás de Ubatuba (Armistício de Iperoig).
Nesse período, em 1563, intermediou as negociações entre os portugueses e os indígenas reunidos na Confederação dos Tamoios, oferecendo-se Anchieta como refém dos Tamoios em Iperoig, enquanto o padre Manuel da Nóbrega retornou a São Vicente juntamente com Cunhambebe (filho) para ultimar as negociações de paz entre os indígenas e os portugueses.
Durante este tempo em que passou entre os gentios compôs o "Poema à Virgem". Segundo uma tradição, teria escrito nas areias da praia e memorizado o poema, e apenas mais tarde, em São Vicente, o teria trasladado para o papel. Ainda segundo a tradição, foi também durante o cativeiro que Anchieta teria em tese "levitado" entre os indígenas, os quais, imbuídos de grande pavor, pensavam tratar-se de um feiticeiro.
Lutou contra os franceses estabelecidos na França Antártica na baía da Guanabara; foi companheiro de Estácio de Sá, a quem assistiu em seus últimos momentos (1567).
Em 1566 foi enviado à Capitania da Bahia com o encargo de informar ao governador Mem de Sá do andamento da guerra contra os franceses, possibilitando o envio de reforços portugueses ao Rio de Janeiro. Por esta época foi ordenado sacerdote aos 32 anos de idade.
Após a expulsão dos franceses da Guanabara, Anchieta e Manuel da Nóbrega teriam instigado o Governador-Geral Mem de Sá a prender em 1559 um refugiado huguenote, o alfaiate Jacques Le Balleur, e a condená-lo à morte por professar "heresias protestantes" [3]. Em 1567, Jacques Le Balleur foi preso[4], e conduzido ao Rio de Janeiro para ser executado, mas o carrasco teria recusado a executá-lo. Diante disso, Anchieta o teria estrangulado com suas próprias mãos[5]. O episódio é contestado pelo padre jesuíta Hélio Abranches Viotti, com base em documentos que, segundo o autor, contradizem a versão[6].
Dirigiu o Colégio dos Jesuítas do Rio de Janeiro por três anos, de 1570 a 1573. Em 1569, fundou a povoação de Iritiba ou Reritiba, atual Anchieta, no Espírito Santo.
Em 1577 foi nomeado Provincial da Companhia de Jesus no Brasil, função que exerceu por dez anos, sendo substituído em 1587 a seu próprio pedido. Retirou-se para Reritiba, mas teve ainda de dirigir o Colégio do Jesuítas em Vitória, no Espírito Santo. Em 1595 obteve dispensa dessas funções e conseguiu retirar-se definitivamente para Reritiba onde veio a falecer, sendo sepultado em Vitória.

Obra


José de Anchieta em gravura de 1807.

Sua face em uma moeda de 1000 réis de 1938.
Segundo a "Brasiliana da Biblioteca Nacional" (2001) "o Apóstolo do Brasil", fundador de cidades e missionário incomparável, foi gramático, poeta, teatrólogo e historiador. O apostolado não impediu Anchieta de cultivar as letras, compondo seus textos em quatro línguas - português, castelhano, latim e tupi[7], tanto em prosa como em verso.
Duas das suas principais obras foram publicadas ainda durante a sua vida:
O movimento de catequese influenciou seu teatro e sua poesia, resultando na melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro.
Entre suas contribuições culturais, podemos citar as poesias em verso medieval (sobretudo o poema De Beata Virgine Dei Matre Maria, mais conhecido como Poema à Virgem, com 4172 versos), os autos que misturavam características religiosas e indígenas, a primeira gramática do tupi-guarani (A Cartilha dos nativos).
Foi o autor de uma espécie de certidão de nascimento do Rio de Janeiro, quando redigiu sua carta de 9 de julho de 1565 ao Padre Diogo Mirão, dando conta dos acontecimentos ocorridos ali "no último dia de fevereiro ou no primeiro dia de março" do ano. Nela se encontram os seguintes trechos: "...logo no dia seguinte, que foi o último de fevereiro ou primeiro de março, começaram a roçar em terra com grande fervor e cortar madeira para cerca, sem querer saber nem dos tamoios nem dos franceses." E: "... de São Sebastião, para ser favorecida do Senhor, e merecimentos do glorioso mártir."
A sua vasta obra só foi totalmente publicada no Brasil na segunda metade do século XX.

A beatificação

Embora a campanha para a sua beatificação tenha sido iniciada na Capitania da Bahia em 1617, só foi beatificado em junho de 1980 pelo papa João Paulo II.[1] Ao que se compreende, a perseguição do marquês de Pombal aos jesuítas havia impedido, até então, o trâmite do processo iniciado no século XVII.
Em 1622, na cidade do Rio de Janeiro, várias senhoras da cidade de São Paulo, entre elas Suzana Dias e Leonor Leme, que o conhecerem, depuseram em seu favor, no seu processo de beatificação. Leonor Leme, matriarca da família Leme paulista, uma das depoentes, disse que "assistiu ela à primeira missa celebrada em São Vicente pelo Padre José de Anchieta, em 1567, e que ele se confessou depois muitas vezes".
Cquote1.svg Todos o tinham por santo publicamente! Cquote2.svg
Leonor Leme
E Ana Ribeiro, no mesmo processo, declarou que: durante algum tempo com ele se confessou em São Vicente. Relatou um milagre acontecido com seu filho, Jerônimo, que então contava 2 anos de idade. Estava há três dias sem se alimentar. Apresentou-o ao Padre Anchieta, que passava pela sua porta. "Deixe-o ir para o céu", disse Anchieta. Isso à noite. No dia seguinte o menino estava bom, inclusive de uma ferida incurável que até aí tinha no rosto. Todos reconheceram o milagre: nem um sinal ! Narrou outro episódio, em que tomou parte seu marido Antônio Rodrigues, que abandonou um índio que estava enfermo havia 5 anos. Voltando Anchieta à Vila de São Vicente pede a Antônio que tratasse do índio. Fazendo-se vir o índio de São Paulo para São Vicente, onde ficou internado em casa dos padres destinada aos índios, lá o medicou Rodrigues três ou quatro vezes. Sarou prontamente. A cura foi atribuída a Anchieta. De relíquia, possuía um dente dele. Sobre Anchieta disse ser ele homem milagroso, apostólico, celeste.

O "Caminho de Anchieta"

A sua disposição em caminhar levava a que percorresse, duas vezes por mês, a trilha litorânea entre Iriritiba, e a ilha de Vitória, com pequenas paradas para pregação e repouso nas localidades de Guarapari, Setiba, Ponta da Fruta e Barra do Jucu.
Modernamente, esse percurso, com cerca de 105 quilômetros, vem sendo percorrido a pé por turistas e peregrinos, à semelhança do Caminho de Santiago, na Espanha.

Referências

  1. a b c d e José de Anchieta (em português). UOL - Educação. Página visitada em 12 de outubro de 2012.
  2. Beato José de Anchieta (em português). Pateo do Collegio. Página visitada em 28 de maio de 2012.
  3. Cf. MATOS, Alderi de Souza. "A França Antártica e a Confissão de Fé da Guanabara". Portal Mackenzie. Acesso em 12/03/08.
  4. MOREAU, A. Scott, NETLAND, Harold A., ENGEN, Charles Edward Van & BURNETT, David. "Evangelical Dictionary of World Missions". Baker Book (2000), p. 142.
  5. ROCHA POMBO, José Francisco da. História do Brasil. Rio de Janeiro: W. M. Jackson (1935), vol. 3, p. 514. Cf. REIS, Álvaro. O martyr Le Balleur. Rio de Janeiro, s/ed (1917); FERREIRA, Franklin. A presença dos reformados franceses no Brasil colonial, p. 12.
  6. VIOTTI, Hélio Abranches. Anchieta, o apóstolo do Brasil (citação incompleta: falta página).
  7. Poesias de José de Anchieta - Manuscrito do século XVI, em português, castelhano, latim e tupi. Transcrição, traduções e notas de M. de L. de Paula Martins. São Paulo: Comissão do IV centenário da cidade de São Paulo, 1954.

Pero Vaz de Caminha

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Pero Vaz de Caminha
Pero Vaz de Caminha lê para o comandante Pedro Álvares Cabral, o Frei Henrique de Coimbra e o mestre João a carta que será enviada ao rei D. Manuel I.
Nascimento 1450
Porto
Morte 15 de Dezembro de 1500 (50 anos)
Calecute
Nacionalidade Portugal Português
Ocupação Escritor
Pero Vaz de Caminha (Galaico-português: Pero Uaaz de Camjnha; Porto, Portugal, 1450Calecute, Índia, 15 de Dezembro de 1500), às vezes popularmente chamado de Pedro Vaz de Caminha, foi um escritor português que se notabilizou nas funções de escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral.[1]. Foi também vereador na cidade portuguesa do Porto.

Biografia

Era filho de Vasco Fernandes de Caminha, cavaleiro do duque de Bragança. Seus ancestrais seriam os antigos povoadores de Neiva à época do reinado de D. Fernando (1367-1383). Letrado, Pero Vaz foi cavaleiro das casas de D. Afonso V (1438-1481), de D. João II (1481-1495) e de D. Manuel I (1495-1521). Pai e filho, para melhor desempenhar seus cargos, precisavam exercitar a prática e desenvolver o conhecimento da escrita, distinguindo-se a serviço dos monarcas.
Teria participado da batalha de Toro (2 de Março de 1475). Em 1476 herdou do pai o cargo de mestre da balança da Casa da Moeda, um cargo equivalente ao de escrivão e tesoureiro, posição de responsabilidade em sua época.[2] Em 1497 foi escolhido para redigir, na qualidade de Vereador, os Capítulos da Câmara Municipal do Porto, a serem apresentados às Cortes de Lisboa. Afirma-se que D. Manuel I, que o nomeou para o cargo no Porto, lhe tinha afeição.
Em 1500, foi nomeado escrivão da feitoria a ser erguida em Calecute, na Índia, razão pela qual se encontrava na nau capitânia da armada de Pedro Álvares Cabral em Abril daquele mesmo ano, quando a mesma descobriu o Brasil.
Tradicionalmente aceita-se que Caminha pereceu em combate durante o ataque muçulmano à feitoria de Calecute, em construção, no 16 ou 17 de dezembro de 1500.
Caminha desposou D. Catarina Vaz, com quem teve, pelo menos, uma filha, Isabel De Caminha.

A Carta a D. Manuel I


Reprodução da carta de Caminha a Manuel I de Portugal.
Caminha eternizou-se como o autor de uma carta, datada de 1 de Maio, ao soberano, um dos três únicos testemunhos desse descobrimento (os outros dois são a Relação do Piloto Anônimo e a Carta do Mestre João Faras).
Mais conhecido dentre os três, a Carta de Pero Vaz de Caminha é considerada a certidão de nascimento do Brasil embora, dado o segredo com que Portugal sempre envolveu relatos sobre sua descoberta, só fosse publicada no século XIX, pelo Padre Manuel Aires de Casal em sua "Corografia Brasílica", Imprensa Régia, Rio de Janeiro, 1817. O texto de Mestre João demoraria mais ainda: veio à luz em 1843 na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e isso graças aos esforços do historiador Francisco Adolfo de Varnhagen.

Participantes da expedição

Relação de acordo com Sílvio Castro[3]

Citados diretamente na carta

  1. Pedro Álvares Cabral (comandante da frota de 13 navios)
  2. Vasco de Ataíde (comandante)
  3. Nicolau Coelho (comandante)
  4. Sancho de Tovar (comandante)
  5. Simão de Miranda (comandante)
  6. Aires Correia (comandante, feitor geral)
  7. Bartolomeu Dias (comandante)
  8. Diogo Dias (comandante)
  9. Aires Gomes (comandante)
  10. Afonso Lopes (piloto)
  11. Pêro Escobar (piloto)
  12. Henrique de Coimbra (frei)
  13. Afonso Ribeiro (degredado)

Participantes subentendidos

  1. Gaspar de Lemos (comandante) - Retornou a Portugal com a carta. Partiu dia 2 de maio
  2. Nuno Leitão da Cunha (comandante da caravela Anunciada)
  3. Pero de Ataíde (comandante do navio São Pedro)
  4. Luís Pires (comandante)
  5. Simão de Pina (comandante)

Bibliografia

  • TUFANO, Douglas. A Carta de Pero Vaz de Caminha. São Paulo: Ed. Moderna, 1999.

Referências

  1. Castro, Silvio: A Carta de Pero Vaz de Caminha. O Descobrimento do Brasil. Porto Alegre : L&PM, 2009.
  2. Pero Vaz de Caminha
  3. CASTRO, Sílvio. "A Carta de Pero Vaz de Caminha. O Descobrimento do Brasil". Porto Alegre: L&PM, 2009. p. 15.

Vicente do Salvador

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Frei Vicente do Salvador, OFM Academia Brasileira de Letras
Nome completo Vicente Rodrigues Palha
Nascimento 1564
Salvador
Morte 1639 (75 anos)
Salvador
Nacionalidade  Portugal Brasil (Brasil colônia)
Cidadania Português (Brasil colônia)
Progenitores Mãe: Messia de Lemos
Pai: João Rodrigues Palha
Ocupação Religioso franciscano
Magnum opus História do Brasil: 1500-1627
Frei Vicente do Salvador, OFM, nascido Vicente Rodrigues Palha (Matuim, Salvador, c. 1564Salvador, c. 1636-1639) foi um religioso franciscano, conhecido como pai da historiografia brasileira[1][2], ou Heródoto brasileiro[3].

Biografia

Filho de João Rodrigues Palha e Messia de Lemos, nasceu em Matuim, Salvador, Bahia. Foi batizado no dia 28 de janeiro de 1567[4].
Estudou no colégio dos jesuítas, em Salvador. Estudou Direito e Teologia na Universidade de Coimbra[5], onde doutorou-se em cânones. Presbítero secular, foi cônego da catedral e vigário geral do bispado da Bahia[4]. Ingressou na ordem franciscana, tendo recebido o hábito a 27 de janeiro de 1599 e professando a 30 de janeiro de 1600, no convento de Salvador[4].
Por volta de 1607 fundou o convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro[5], eleito guardião deste convento em 1612. Foi eleito custódio da Província de Santo Antônio do Brasil, no capitulo celebrado em Lisboa a 15 de fevereiro de 1614. Exerceu diversos cargos em sua ordem. Foi colecionador de obras de arte[4].
Faleceu no convento da Bahia entre os anos de 1636 a 1639[4] [6].

Obras

Excerto

A obra do frei Vicente, "História do Brasil", dividida em cinco livros, narra o modus vivendi na Colônia, narrando episódios conhecidos de seus primeiros governadores, bem como anedotas, o jeito de falar e de viver nas terras ainda tão novas.
A seguir, um excerto de sua narrativa, considerada o "primeiro clássico do Brasil":
A Independência econômica do Brasil
Inopem me copia facit, disse o poeta, e disse verdade, porque, onde as coisas são muitas, é forçado que se percam, como acontece ao que vindima a vinha fértil e abundante de fruto, que sempre lhe ficam muitos cachos de rabisco e assim me há sucedido com as coisas de mar e terra do Brasil de que trato. Pelo que me é necessário rabiscar ainda algumas, que farei neste capítulo, que quanto a todas é impossível relatá-las.
Faz no Brasil sal não só em salinas artificiais, mas em outras naturais, como no Cabo Frio e além do Rio Grande, onde se acha coalhado em grandes pedras muito e muito alvas.
Faz-se também muita cal, assim de pedra do mar como da terra, e de cascas de ostras que o gentio antigamente comia e se acham hoje montes delas coberos de arvoredos, donde se tira e se coze engradada entre madeira com muita facilidade.
Há tucum, que são umas folhas quase de dois palmos de comprido, donde, só com a mão, sem outro artifício, se tira pita rijíssima, e cada folha dá uma estriga.

Homenagens póstumas

Referências

  1. a b c d Willeke, Venâncio, Frei. (out./dez. 1967). "Frei Vicente do Salvador: Pai da História do Brasil" (em português). Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro 277 pp. 99-112.
  2. Coutinho, Afrânio; Sousa, J. Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira (em português). 2 ed. Rio de Janeiro: Global, 2001. p. 1432. 2 vol. vol. 2.
  3. Lins, Guilherme Gomes da Silveira d'Ávila. (out./dez. 2011). "Frei Vicente do Salvador, O.F.M.: um breve ensaio biobibliográfico e historiográfico" (em português). Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro 172 pp. 147-173.
  4. a b c d e f g Blake, Augusto Victorino Alves Sacramento, 1827-1903. Diccionario bibliographico brazileiro (em português). Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1883-1902. p. 370-371. 7 vol. vol. 7.
  5. a b Silva, Innocencio Francisco da. Diccionario bibliographico portuguez. Lisboa: Imprensa Nacional, 1858-1923. p. 13-15. vol. 20.
  6. Jaboatão, Antonio de Santa Maria, 1695-1779. Novo orbe serafico brasilico, ou, chronica dos frades menores da provincia do Brasil. Rio de Janeiro: Typ. Brasiliense de Maximiniano Gomes Ribeiro, 1858-1862. p. 105. 5 (em 2) vol. vol. 2.
  7. a b Willeke, Venâncio, Frei. (abr./jun. 1968). "O estado atual das pesquisas sobre Frei Vicente do Salvador e suas obras". Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro 279 pp. 165-176.
  8. Academia Brasileira de Letras. Sócios Correspondentes e Patronos.
  9. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Patronos.

Fontes

  • Biblioteca Nacional (Brasil). Vicente do Salvador, 1564-ca.1636.
  • Oliveira, Maria Lêda. A história do Brazil de Frei Vicente do Salvador: história e política no Império português do século XVII (em português). São Paulo: Odebrecht, 2008. 2 vol. (ilustrado)
  • Souza, Antonio Loureiro de. Bahianos ilustres: 1564-1925. Salvador: Tip. Beneditina, 1949. 222 p. p. 16-17.
  • Vicente do Salvador, Frei. História do Brazil: 1500-1627 (em português). Curitiba: Juruá, 2008. 356 p. (edição revista por Capistrano de Abreu em 1918
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Pero Lopes de Sousa

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Pedro Lopes de Sousa, senhor de Alcoentre, (Lisboa, 14971539), foi um nobre português, navegador e militar. Irmão mais velho de Martim Afonso de Sousa, foi donatário da Capitania de Santo Amaro. Escreveu o Diário da Navegação, "o mais importante relato sobre a expedição de seu irmão ao Brasil"[1], em 1530-32.

Biografia

Filho de família nobre, viveu na corte a infância e juventude. Ainda jovem, tornou-se navegador. Em dezembro de 1530 partiu, com o irmão, em missão ordenada pelo rei Dom João III de Portugal para explorar terras brasileiras. Em 1532, decidiu retornar a Portugal. Na viagem de volta enfrentou e aprisionou dois navios franceses ao largo de Pernambuco. Essa aventura lhe rendeu cinqüenta léguas de terras no litoral do Brasil, oferecidas pela Coroa.
Em 1539, ocupando o posto de capitão-mor de uma esquadra de seis navios, partiu de Lisboa para a Índia. Na viagem de volta, naufragou próximo a Madagascar (Ilha de São Lourenço para os portugueses), e o seu corpo desapareceu no mar.

Obra

Em 1839, o historiador Francisco Adolfo de Varnhagen descobriu o seu "Diário da Navegação".
Na obra, Lopes de Sousa narra, além de sua biografia e a de seu irmão, episódios como a fundação das vilas de São Vicente e Piratininga e os descobrimentos do Rio de Janeiro, do Rio da Prata e da ilha de Fernando de Noronha. É peça chave para se entender a luta de séculos entre Portugal e Espanha pelo controle do estuário do Rio da Prata e o primeiro documento a descrever a costa sul-americana. Narra ainda o contacto com os degredados e a expulsão dos franceses.
Diz-se na "Brasiliana da Biblioteca Nacional", Rio de Janeiro, 2001:
'Navegador afeito à ação, Pero Lopes oferece passagens que emocionam o leitor, com um tom entre deslumbrado e surpreso diante da realidade geográfica e humana da terra visitada, como a chegada à baía do Salvador e do Rio de Janeiro, o relato da subida pelos rios Paraná e Uruguai, a fundação da vila de São Vicente, ou ainda, o ataque aos núcleos franceses que comerciavam o pau-brasil. Sobre a sua chegada ao Rio de Janeiro, diz: ´A gente deste Rio é como a da Bahia de Todos os Santos, senão quanto é mais gentil gente. Toda a terra deste Rio é de montanhas e serras muito altas. As melhores águas há neste que podem ser."

Armas de Brasão


Brasão da família Sousa
Seu Brasão D'Armas é descrito da seguinte forma: Esquartelado: o primeiro e o quarto de prata, com cinco escudetes de azul postos em cruz, cada escudete carregado de cinco besantes do primeiro esmalte, postos em sautor; o segundo e o terceiro de prata com um leão rampante de púrpura. Timbre: o leão do escudo.

Descendência

Referências

  1. Mini-biografia de Pero Lopes de Souza em Netsaber. Acesso em 16 de janeiro de 2012.
Precedido por
Martim Afonso de Sousa
Donatário da Capitania de São Vicente
15721586
Sucedido por
Lopo de Sousa

Hans Staden

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Hans Staden
Retrato de Hans Staden feito por
H. J. Winkelmann, em 1664.
Nascimento 1525
Homberg (Efze)
Morte 1579 (54 anos)
Wolfhagen
Nacionalidade alemã
Ocupação Marinheiro, aventureiro, mercenário e cronista.
Hans Staden (Homberg (Efze), c. 1525Wolfhagen, c. 1579) foi um aventureiro mercenário alemão do século XVI. Por duas vezes, Staden esteve no Brasil, onde participou de combates nas capitanias de Pernambuco e de São Vicente contra navegadores franceses e seus aliados indígenas e onde passou nove meses refém dos índios tupinambás. De volta à Alemanha, Staden escreveu "História verdadeira e descrição...": um relato de suas viagens ao Brasil que se tornou um grande sucesso editorial da época.

A primeira viagem ao Brasil


Cena de antropofagia em uma das edições de História Verdadeira e Descrição...
Partindo de Bremen, na atual Alemanha, Hans Staden passou pelos Países Baixos e chegou a Portugal. De Portugal, partiu para a capitania de Pernambuco, onde chegou em 28 de Janeiro de 1548. A embarcação portuguesa em que estava tinha o objetivo principal de recolher pau-brasil (Caesalpinia echinata), mas também deveria combater quaisquer navios franceses que estivessem a negociar com os nativos, bem como deveria também transportar degredados portugueses remetidos para povoar a colônia.
O governador de Pernambuco, Duarte da Costa, que enfrentava uma revolta indígena na ocasião, pediu ajuda aos recém-chegados. Hans Staden e os demais rumaram para Igaraçu, próximo a Olinda, em um navio para auxiliar na luta. Igaraçu era, então, defendida por aproximadamente 120 pessoas, às quais se uniram os cerca de quarenta recém-chegados, incluindo Hans Staden. Enfrentaram 8 000 indígenas. Depois de uma renhida luta e de um cerco prolongado no qual vieram a faltar provisões, os defensores conseguiram, afinal, vencer os indígenas.
Dias depois, enfrentaram um navio francês e, logo depois, retornaram à Europa, aportando em Lisboa no dia 8 de Outubro.

A Segunda Viagem ao Brasil

Em sua segunda viagem, Staden partiu de Sevilha rumo ao Rio da Prata em um navio espanhol em 1549, mas o navio veio a naufragar no ano seguinte, no litoral do atual estado brasileiro de Santa Catarina. Os integrantes da expedição, depois de passarem dois anos na região, decidiram rumar para a cidade de Assunção: uma parte deles iria por terra e outra parte, por navio. Staden se juntou ao segundo grupo e rumou para a cidade de São Vicente, onde tentaria fretar um navio capaz de chegar a Assunção.
Antes de chegar a São Vicente, porém, o navio de Staden naufragou próximo a Itanhaém. Seus ocupantes conseguiram nadar até a praia. De lá, foram a pé até São Vicente, onde Staden foi contratado como artilheiro pelos colonos portugueses para defender o Forte de São Filipe da Bertioga, que se localizava nas proximidades da cidade. Enquanto caçava sozinho fora dos limites do forte, Staden foi feito prisioneiro por uma tribo tupinambá que o conduziu à aldeia de Ubatuba (Uwattibi, no texto original do relato de Staden[1]), que ficaria localizada na atual cidade de Ubatuba, no estado de São Paulo[2].
Desde o início, ficou claro que a intenção dos seus captores era devorá-lo. Pouco tempo depois, os tupiniquins, aliados dos portugueses, atacaram a aldeia onde ele era mantido prisioneiro. Obrigado pelos tupinambás, Staden lutou ao lado destes contra os tupiniquins. Seu desejo era tentar fugir para unir-se aos atacantes. Mas, estes, vendo que a resistência dos defensores era muito forte, desistiram da luta e se retiraram. Era tratado como um troféu de guerra pelos tupinambás[3].
Pediu ajuda a um navio português e a outro francês. Ambos recusaram-se a ajudá-lo por não desejarem entrar em conflito com os índios. Foi, enfim, resgatado pelo navio corsário francês Catherine de Vatteville, comandado por Guillaume Moner, depois de mais de nove meses aprisionado.

Obra

De volta à Europa, redigiu um relato sobre as peripécias em suas viagens e aventuras no Novo Mundo, uma das primeiras descrições para o grande público acerca dos costumes dos indígenas sul-americanos.
O livro, intitulado "História Verdadeira e Descrição de uma Terra de Selvagens, Nus e Cruéis Comedores de Seres Humanos, Situada no Novo Mundo da América, Desconhecida antes e depois de Jesus Cristo nas Terras de Hessen até os Dois Últimos Anos, Visto que Hans Staden, de Homberg, em Hessen, a Conheceu por Experiência Própria e agora a Traz a Público com essa Impressão"[4], também conhecido pelo nome "Duas Viagens ao Brasil", foi publicado em Marburgo, na Alemanha, por Andres Colben em 1557.
Tal livro conheceu sucessivas edições, constituindo-se num sucesso editorial devido às suas ilustrações de animais e plantas, além de descrições de rituais antropofágicos e costumes exóticos.
A sua influência no meio culto da época ajudou a criar, no imaginário europeu quinhentista, a ideia da terra brasílica como o país dos canibais, devido às ilustrações com cenas de antropofagia.[5]
Para os estudiosos, a obra contém informações de interesse antropológico, sociológico, linguístico e cultural sobre a vida, os costumes e as crenças dos indígenas do litoral brasileiro na primeira metade do século XVI.

Imagens


Tupinambás em gravura do século XVI.

Um dos animais exóticos que Staden avistou no Brasil: o tatu.

Ilustração mostrando Hans Staden (de barba, ao fundo) observando indígenas no Brasil praticando antropofagia

Relevo de Staden em Homberg, sua cidade natal

Trechos de Duas viagens ao Brasil

A partida para o novo mundo

Eu, Hans Staden de Homberg-em-Hessen, resolvi visitar a Índia. Saí de Bremem para os Países Baixos e achei, em Campon, navios que pretendiam tomar carga de sal em Portugal. Embarquei e, a 29 de Abril de 1547, chegávamos a Setúbal.

Costumes indígenas

Formaram um círculo ao redor de mim, ficando eu no centro com duas mulheres. Amarraram-me numa perna um chocalho e, na nuca, penas de pássaros. Depois, começaram as mulheres a cantar e, conforme um som dado, tinha eu de bater no chão o pé onde estavam atados os chocalhos.
As mulheres fazem bebidas. Tomam as raízes de mandioca, que deixam ferver em grandes potes. Quando bem fervidas tiram-nas (...) e deixam-nas esfriar (...) Então, as moças assentam-se ao pé e mastigam as raízes e o que fica mastigado é posto numa vasilha à parte.
Acreditam na imortalidade da alma (...).

A antropofagia

Voltando da guerra, trouxeram prisioneiros. Levaram-nos para sua cabana: mas a muitos feridos desembarcaram e os mataram logo, cortaram-nos em pedaços e assaram a carne (...) Um era português (...) O outro chamava-se Hyeronimus; este foi assado de noite.

Referências

  1. STADEN, H. Duas viagens ao Brasil. Porto Alegre: L&PM, 2010. p.162
  2. NAVARRO, E. A. Brasil - um História. Segunda edição. São Paulo: Ática, 2003. p. 46
  3. Educaterra: HISTÓRIA - por Voltaire Schilling - As aventuras de Hans Staden (em portugués) (Dezembro de 2008). Página visitada em 18 de Dezembro de 2008.
  4. STADEN, H. Duas Viagens ao Brasil. Porto Alegre: L&PM, 2010. p. 9
  5. Brasiliana da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, 2001.

Bibliografia

  • STADEN, Hans. Duas viagens ao Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1974. 218 p. il.
  • Véritable histoire et description d'un pays habité par des hommes sauvages, nus, féroces et anthropophages: situé dans le Nouveau monde nommé Amérique, avant et depuis la naissance de Jésus-Christ, jusqu'à l'année dernière; Por Hans Staden, Johann von Staden; Publicado por A. Bertrand, 1837; 335 páginas
  • Viagem ao Brasil - Rio de Janeiro : Academia Brasileira, 1930. - 186 p. http://purl.pt/151
  • William Arens, The Man-Eating Myth: Anthropology & Anthropophagy (Oxford University Press, 1979), 22-31; Michaela Schmolz-Haberlein and Mark Haberlein, “Hans Staden, Neil L. Whitehead, and the Cultural Politics of Scholarly Publishing,” Hispanic American Historical Review 81, no. 3-4 (2001): 745-751.

André Thévet

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Frei André Thévet (Angoulême, 1502Paris, 23 de Novembro de 1590) foi um frade franciscano francês, explorador, cosmógrafo e escritor que viajou ao Brasil no século XVI, tendo escrito obras sobre os costumes da terra, naquele tempo.

Biografia


André Thévet
Estudioso de Cosmografia e Cartografia, Thevet tornou-se cosmógrafo do rei da França, Henrique II, a partir de 1558.
Embarcou para o Rio de Janeiro (Brasil), na frota do Almirante Nicolas Durand de Villegagnon, permanecendo em terras brasileiras de novembro de 1555 a janeiro de 1556, a observar a natureza e os índígenas da Baía de Guanabara.
Foi o grande responsável pela vulgarização da expressão "França Antártica", referindo a experiência colonial francesa na baía da Guanabara, ao publicar "Les singularitez de la France antartique" (Paris, 1557), ilustrada com 41 xilogravuras. Nessa obra responsabiliza os huguenotes (calvinistas franceses) pelo fracasso na manutenção da colônia, posição que justificou a obra "Histoire d'un voyage faict en la terre du Brésil", de autoria do calvinista Jean de Léry.[notas 1]
Em 1575 publicou "La cosmographie universelle d´André Thever, cosmographe de Roy", em 4 tomos, ilustrada com 228 gravuras, sendo um dos tomos dedicado inteiramente aos índios tupinambás.
Thévet foi também guarda das curiosidades reais, e abade de Masdion, em Sanitonge.

Notas

  1. Essas e outras obras deram origem ao mito do "bom selvagem".

Bibliografia

  • Bogliolo Bruna, Giulia. Introduzione, traduzione e note delle Singolarità della Francia Antarctica di André Thevet (prefazione Frank Lestringant). Reggio Emilia, Diabasis, 1997. 247 p.
  • Gaspar, Lúcia. Viajantes em terras brasileiras - Documentos existentes no acervo da Biblioteca Central Blanche Knopf. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, s.a..
  • Vainfas, Ronaldo (direção). Dicionário do Brasil Colonial: 1500 - 1808. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2000.

Ver também


Pero de Magalhães Gândavo

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O monstro marinho Ipupiara sendo atacado. Figura mítica que ilustrava o livro de Gândavo, escrito em 1576.
Pêro de Magalhães Gândavo (Braga, c. 1540 — c. 1580)[1] foi um historiador e cronista português.

Vida

Filho de pais flamengos oriundos da cidade de Gand, daí o seu apelido Gândavo, nasceu em Braga em data incerta, provavelmente por volta de 1540. Foi professor de Latim e Português no norte de Portugal e secretário na Torre do Tombo.
Gândavo esteve no Brasil, talvez entre 1558 e 1572, para trabalhar na Fazenda do governo da Bahia.

Obras

Gândavo é autor do famoso livro "História da Província Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil", editado em Lisboa, por Antônio Gonçalves, 1576 onde fala de uma série de aspectos locais como os animais, que eram em boa parte desconhecidos dos europeus: o papa-formigas, o tatu, uma série de aves, insectos e peixes exóticos são descritos com espanto, estranheza e maravilha. Chega mesmo a descrever um suposto monstro marinho que teria aparecido na capitania de S. Vicente, e que fora morto pelos portugueses da localidade.
As plantas da colónia merecem também a sua atenção. A que descreve com maior cuidado é a mandioca, assinalando as suas utilidades, assim como as características de cada parte da planta.
Além da fauna e flora relata a descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral, assim como os primórdios da colonização, as diversas tribos indigenas, e descreve ainda as diversas capitanias em que se dividia o território brasileiro. Traça, por fim, um retrato das potencialidades que esta terra reservava aos portugueses, tal como a vastidão do território e dos seus recursos económicos.
Diz Capistrano de Abreu que o projeto de Gândavo era: "mostrar as riquezas da terra, os recursos naturais e sociais nela existentes, para excitar as pessoas pobres a virem povoá-la: seus livros são uma propaganda de imigração."[carece de fontes]
Na obra de Gândavo, o Brasil é descrito a região costeira desde Itamaracá até São Vicente e se estendia pouco do interior. Gândavo cita Olinda como o local mais rico do Brasil e Salvador o mais populoso, o que evidencia que naquela altura o Brasil se concentrava na costa nordestina. Na época de Gândavo a produção de açucar se dava mais no engenho hidráulico que no engenho a tração animal.
Na época de Gândavo, a principal mão de obra era a indígena. Pernambuco tinha tanto excedente de escravos indígenas que os exportavam para capitanias mais meridionais.
Escreveu ainda o "Tratado da província do Brasil", conhecido hoje na edição de Emmanuel Pereira Filho[2], que antecedee a "História" acima citada.

Gândavo fora também gramático e junto a Belchior Rodrigues e João Ocanha escreveu as 'Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa (1574)

Obras

  • Tractado da terra do Brasil (eBook)

Referências

  1. Pero de Magalhães Gândavo. Universidade Federal de Campina Grande. Página visitada em 18 de Dezembro de 2007.
  2. edição do Instituto Nacional do Livro/MEC Rio de Janeiro, 1965

Jean de Léry

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"Historia navigationis in Brasiliam…". Genebra, 1586.
Jean de Léry (Côte-d'Or, c. 1536 - Suíça, c. 1613) foi um pastor, missionário e escritor francês e membro da igreja reformada de Genebra durante a fase inicial da Reforma Calvinista.

Biografia

Léry era um jovem sapateiro e seminarista quando, em 1556, tomou a decisão de acompanhar um grupo de ministros e artesãos protestantes em uma viagem à França Antártica, colônia francesa estabelecida na baía de Guanabara, atual cidade do Rio de Janeiro.
A França Antártica havia sido estabelecida por Nicolas Durand de Villegagnon, com ajuda financeira e apoio de Gaspard de Coligny, almirante da marinha francesa convertido ao calvinismo. Villegagnon embora inicialmente aceitasse os protestantes, passados oito meses da chegada destes, expulsou-os acusando-os de heresia. Léry e os demais passaram mais dois meses na região da Baía de Guanabara, acolhidos pelos índios Tupinambás. Alguns dos missionários retornaram para a colônia e foram mortos por Villegagnon. Léry e parte dos missionários retornaram à França em um navio bastante avariado. A viagem foi arriscada, demorou mais do que o usual, e quase levou os passageiros e tripulantes a morrerem de fome. Ao final do percurso, Léry e os demais estavam comendo couro, papagaios, ratos e até mesmo mastigando o Pau Brasil que traziam consigo. Já se preparavam para tirar sortes para decidir qual deles morreria para servir de alimento aos outros quando chegaram à Europa. Sem saberem, Léry e seus amigos traziam na bagagem uma carta escrita por Villegagnon ordenando a prisão e execução dos missionários. A ordem não foi cumprida. Os missionários foram acolhidos na França por autoridades protestantes, que ignoraram a ordem. Léry recebeu a notícia das mortes de três de seus amigos no Brasil e as narrou no capítulo "Perseguição dos Fiéis nas Terras da América" do livro "História dos Mártires", publicado por Jean Crespin, advogado protestante refugiado em Genebra.
De volta a Genebra, Léry tornou-se pastor e casou-se. Em 24 de Agosto de 1572, na chamada "Noite de São Bartolomeu", os católicos assassinaram inúmeros protestantes na França, dando início a uma guerra civil que dividiu o país. A experiência de carestia no Brasil, e especialmente na viagem de volta à França, foi útil a Léry nesse conflito. Com outros protestantes, ele resistiu a um cerco de tropas católicas contra a cidade de Sancerre. Léry ensinou aos demais a dormir em redes e sobreviver comendo quase nada. Os católicos terminaram por desistir do cerco sem prejudicar tanto os protestantes. A história desse cerco está narrada no primeiro livro de Léry, "História Memorável da Cidade de Sancerre". Nesse livro Léry acusa os franceses de serem mais bárbaros do que os índios canibais que conheceu no Brasil.
A França Antártica foi conquistada pelos portugueses em 1567. Em seu lugar criaram a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. André Thévet, um frade franciscano francês, acusou os protestantes pelo fracasso da colônia em seu livro "Cosmografia Universal". Em resposta a essa acusação e atendendo a pedidos de amigos Léry permitiu que seu diário de viagem fosse publicado com o título "Histoire d'un voyage faict en la terre du Brésil". Isso, porém só pôde ser feito em 1578, após o manuscrito original ser perdido e outros contratempos referentes às Guerras Religiosas ocorrerem. O livro de Thévet mistura realidade e fantasia. Fala de índios que carregavam canhões nos ombros, com os quais atiravam contra os portugueses. Contém inúmeras incongruências. Léry parte desses elementos para contar o que segundo ele seria o verdadeiro relato do que ocorreu no Forte Coligny. Após a publicação de sua obra Léry permaneceu trabalhando como pastor até o fim de sua vida.
Conta-se no verbete sobre o Forte Coligny, construído pelos franceses no Rio: "Esta fortificação foi o núcleo do estabelecimento colonial francês conhecido como França Antártica (1555-1560), sob o comando de Nicolas Durand de Villegagnon (1510-1571). Principiado ainda em 1555, após uma frustrada tentativa de estabelecimento de uma bateria artilhada na Isle Rattier, em Março de 1557 uma segunda expedição, sob o comando do Capitão Bois-le-Compte, sobrinho de Villegagnon, chegou à Guanabara com reforços: três navios novos e bem artilhados, transportando 290 colonos. O calvinista Jean de Léry, integrante desse reforço, resumiu a chegada dos primeiros franceses ("Histoire d'un voyage fait en la terre du Brésil", 1578):
"Assim, antes de partir de França, Villegagnon prometeu a alguns honrados personagens que o acompanharam, fundar um puro serviço de Deus no lugar em que se estabelecesse. E depois de aliciar os marinheiros e artesãos necessários, partiu em Maio de 1555, chegando ao Brasil em novembro, após muitas tormentas e toda a espécie de dificuldades. Aí aportando, desembarcou e tratou imediatamente de alojar-se em um rochedo na embocadura de um braço de mar ou rio de água salgada a que os indígenas chamavam Guanabara e que (como descreverei oportunamente) fica a 23° abaixo do Equador, quase à altura do Trópico de Capricórnio. Mas o mar daí o expulsou. Constrangido a retirar-se avançou quase uma légua em busca de terra e acabou por acomodar-se numa ilha antes deserta, onde, depois de desembarcar sua artilharia e demais bagagens, iniciou a construção de um forte, a fim de garantir-se tanto contra os selvagens como contra os portugueses que viajavam para o Brasil e aí já possuem inúmeras fortalezas." (LÉRY, 1972:22)
Específicamente sobre a ilha e a sua fortificação, prossegue:
" Uma légua mais adiante, encontra-se a ilha onde nos instalamos e que, como já observei, era desabitada antes de Villegagnon chegar ao país; com meia milha de circunferência e seis vezes mais comprida do que larga, e rodeada de pedras à flor d'água, o que impede se aproximem os navios mais perto do que a distância de um tiro de canhão, e a torna naturalmente fortificada. Com efeito ninguém pode ali atracar, nem mesmo em pequenos barcos, a não ser pelo lado do porto, situado em posição contrária ao mar alto. Bem guarnecida, não fora possível forçá-la nem surpreendê-la, como depois de nosso regresso o fizeram os portugueses por culpa dos que lá ficaram. Ademais, nas extremidades dessa ilha existem dois morros nos quais Villegagnon mandou construir duas casinhas, edificando a sua, em que residiu, no centro da ilha em uma pedra de cinqüenta a sessenta pés de altura. De ambos os lados desse rochedo, aplainamos e preparamos pequenos espaços onde se construíram não só a sala, onde nos reuníamos para a prédica e a refeição, mas ainda vários outros abrigos em que se acomodavam cerca de oitenta pessoas, inclusive a comitiva de Villegagnon. Entretanto, a não ser a casa situada no rochedo, construída com madeiramento, e alguns baluartes para artilharia, revestidos de alvenaria, o resto não passava de casebres de pau tosco e palha construídos à moda dos selvagens, que de fato os fizeram. Eis, em poucas palavras, em que consistia o forte que Villegagnon denominou Coligny, pensando ser agradável ao senhor Gaspard de Coligny, almirante de França, sem o apoio do qual, como já disse no início, jamais tivera meios de fazer a viagem nem de construir nenhum forte no Brasil." (op. cit., p. 68-69)
O forte foi penosamente erguido com a mão de obra indígena (cerca 40 escravos adquiridos aos Tupinambás) e dos colonos:
"(…) Como sobremesa [ao jantar da recepção] própria para refazer-nos dos trabalhos do mar mandaram-nos carregar pedras e terra para as obras do forte de Coligny, que se achava em construção. (…) Assim, já de chegada e nos dias seguintes, sem necessidade nenhuma e sem nenhuma atenção ao estado de debilidade em que nos encontravamos por causa da viagem, (…) obrigou-nos Villegagnon a carregar terra e pedras para o seu fortim e isso desde a madrugada até à noite, apesar de nossa fraqueza, o que por certo constituía um tratamento mais rude que fora de esperar de um pai. Todavia (…) não houve entre nós quem não trabalhasse com alegria, acima de suas forças e por espaço de quase um mês naqueles serviços a que não estávamos acostumados." (op. cit., p. 52-53).

Obras

Jean de Léry é autor de dois livros:

Referências

Bibliografia

  • Brasiliana da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, 2001.

Ver também

Wikiquote



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